Por Gabriel Roca e Matheus Prado
Os receios com o risco de ingerência do governo na política de preços da Petrobras e a maior proximidade das eleições de 2022 não têm sido motivos suficientes para conter o otimismo de gestores com as ações da estatal. A visão, que ganha força no mercado, é a de que os preços dos papéis da petroleira estão excessivamente descontados, em meio à melhora dos resultados da companhia e às perspectivas de uma alta mais sustentada do barril de petróleo.
Assim, a Petrobras vem ganhando espaço nas carteiras dos investidores, mesmo em meio à fraqueza generalizada que é observada nas ações locais. Nos últimos 30 dias, período em que ficaram mais latentes as preocupações com uma crise energética global, as ações preferenciais da companhia subiram 12,42%, enquanto os papéis ordinários anotaram ganhos de 11,83%. O Ibovespa, principal índice do mercado local, teve queda de 0,36% no mesmo período.
Segundo o Bank of America (BofA), o barril do Brent, a referência global do petróleo, deve chegar a US$ 100 no terceiro trimestre do ano que vem – na sexta-feira, fechou a US$ 84,86 na ICE, em Londres. Na opinião do banco americano, os melhores canais para a captura da valorização da commodity, na América Latina, são as ações da Petrobras e da colombiana Ecopetrol. “Espera-se que a Petrobras se beneficie dos preços internacionais mais altos do petróleo. Embora haja desafios na política de preços, nas eleições de 2022 e nos riscos relacionados aos emergentes, ainda vemos uma relação de risco e retorno positiva”, diz em relatório o analista Frank McGann.
De acordo com ele, os resultados operacionais fortes e o fluxo de caixa, impulsionados pelos preços do petróleo, devem permitir uma redução adicional da dívida, além do pagamento de dividendos mais elevados.
Subho Daripa, gestor da Atlas One e analista do setor de petróleo, explica que, atualmente, os preços da commodity têm uma tendência altista porque os estoques estão baixos e há uma defasagem na oferta, com a Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados) estimando que o processo de diminuição da ociosidade de produção durará até setembro do ano que vem.
Mas, ao mesmo tempo, existe uma questão conjuntural empurrando os preços das petroleiras para baixo, mesmo com boa parte do setor apresentando geração robusta de caixa. Segundo o gestor, existe pressão, principalmente na Europa, para que se acelere o processo de transição energética, em detrimento de combustíveis fósseis.
“O setor vem perdendo US$ 700 bilhões em ‘capex’ [investimentos] por ano, mas a demanda continua em alta. Então, o segmento como um todo está barato, e a Petrobras está mais barata ainda, mesmo se considerarmos que é uma empresa estatal e pode sofrer intervenções. Hoje as petroleiras chinesas negociam a cerca de 6 vezes o P/L [preço da ação dividido pelo lucro líquido da empresa], as russas, 7 vezes, e a Petrobras, a 4 vezes.”
A Guepardo Investimentos, gestora que tem como especialidade o “value investing” – estratégia que consiste em buscar empresas sólidas a preços descontados -, é uma das que está de olho na Petrobras. Pela primeira vez, segundo o gestor de renda variável Octavio Magalhães, a Guepardo investiu em ações da Petrobras, que hoje é a terceira maior posição do fundo que administra.
“A gente monitora sempre a relação entre risco e retorno e dessa vez ficou muito atraente. Nunca gostamos de investir em estatais, mas desde o governo Temer a Petrobras vem tendo excelente gestão. É uma das empresas mais eficientes do mundo”, diz Magalhães.
Segundo Luiz Fernando Alves, gestor da Versa Asset, a companhia chama a atenção pelo nível de preço em que vem sendo negociada. Assumindo o cenário de que a Petrobras deve manter sua política de preços, a petroleira acabou se tornando a maior posição de commodities da gestora. “Quem está investindo quer continuar vendo uma empresa arbitrada, que vai repassar preços quando houver mudanças no cenário. O atual governo começou com uma gestão ruidosa, mas nos últimos tempos, ela tem sido competente. Se mantendo assim, é de longe a empresa mais barata do índice”, afirma.
Há também quem tenha montado posições mais táticas, em meio à disparada dos preços de commodities energéticas ao redor do mundo. Marcelo Sagae, sócio e gestor de renda variável da Persevera Asset, afirma que a gestora continua otimista com o preço de petróleo para os próximos meses, e que, atualmente, possui posições compradas (que apostam na alta)diretamente em futuros de petróleo e em um combo de petrolíferas brasileiras.
“Compramos uma carteira de Petrobras, PetroRio, PetroReconcavo e 3R. Saímos um pouco do risco microeconômico e pegamos mais a história da alta do petróleo. É uma posição mais tática, que deve acabar quando acharmos que o petróleo já andou bastante”, diz.
Para um gestor de renda variável, que prefere não ser identificado, faz sentido o investimento em Petrobras, dada a melhora de resultados da companhia e a manutenção, até o momento, da política de preços da instituição. No entanto, há riscos que não são fáceis de serem mensurados e, por isso, a gestora ainda não investiu na estatal. “O que a gente ainda se questiona é, se o petróleo for a US$ 100 o barril e o dólar for para R$ 6, a gasolina realmente iria pra R$ 10? O problema é em que ponto essa corda pode arrebentar. É um risco desconfortável, e não dá pra analisar com precisão.”