Valor – Fluxo de investidor local deve sustentar bolsa, diz One

Fluxo intenso de investidores locais para a bolsa acompanha as projeções positivas para a economia e o impacto nos resultados das empresas

11/02/2020

O volume de recursos que ainda deve entrar na bolsa brasileira, considerando apenas investidores locais e independentemente do interesse dos estrangeiros, está deixando o gestor Thomas de Mello e Souza, sócio da One Partners, otimista. Isso porque o fluxo intenso de investidores locais para a bolsa acompanha as projeções positivas para a economia e o impacto nos resultados das empresas, ressalta.

“A perspectiva para o Brasil de 2020 e 2021 é muito boa. Há uma âncora fiscal funcionando, o câmbio está depreciado, o que é bom para país exportador, o juro está baixo e a inflação também baixa e controlada”, diz Souza. “Nunca vi o Brasil funcionando com esses quatro elementos e essa combinação é super poderosa do ponto de vista macroeconômico. É transformacional. ”

Souza, que passou por Safra, Gávea, J.P. Morgan e Merrill Lynch, assumiu há dois anos a missão de criar uma área de gestão de recursos na butique One Partners, que até então era voltada para assessoria financeira de fusões e aquisições (M&A). Nessa área, quem toca o barco é Bernardo Parnes, ex-presidente do Deutsche Bank. O fundo, que está 100% comprado em bolsa, foi desenhado para o investidor brasileiro, seja de varejo ou institucional, e tem atualmente R$ 150 milhões de patrimônio e começou a ser distribuído em plataformas de varejo.

O cenário de transformação que ele cita é o que tem levado os investidores a migrarem de ativos de baixo risco para ativos de maior risco, como a bolsa, em busca de melhores retornos. Para Souza, esse movimento, que já foi intenso nos últimos meses, está só no começo. Ele ressalta que a indústria de fundos soma cerca de R$ 5,4 trilhões, que equivale a cerca de 75% do PIB, o que é baixo quando comparado a países desenvolvidos – a indústria de investimentos como um todo nos Estados Unidos é mais de quatro vezes o PIB.

“Considerando só os fundos de renda variável no Brasil, ficam com cerca de 8% do total aplicado na indústria no país. Já foi 4% no fundo do poço em 2016 e já chegou a 15% em 2007”, diz Souza. “Naquele ano, de cada R$ 10 investido em fundos, R$ 3 iam para renda variável e hoje são R$ 2. Dado que o cenário de 2007 era de juros muito mais altos, o câmbio estava apreciado… tinha crescimento, mas que logo se mostraria não sustentável. Agora, a gente vê esse indicador voltando a ser pelo menos parecido com o que foi.”

Nas contas da One Partners, cada ponto percentual que migra para renda variável significa uma adição de R$ 50 bilhões. “Tem gente que acha que pode chegar a 30%, mas se assumirmos apenas que retome ao mesmo patamar, já é um fluxo gigantesco”, avalia. “E isso vai acontecer porque o CDI é um quarto do que era, a migração é inevitável.”

Segundo a Anbima, os fundos de ações bateram recorde de captação em 2019 e seguem em alta neste ano. A captação líquida em janeiro foi de R$ 21,3 bilhões, o maior valor da história para o mês. Souza ressalta que, no ano passado, os investidores locais já responderam por quase metade das compras em ofertas de ações. Este ano, quando o mercado projeta um novo recorde de R$ 200 bilhões em ofertas iniciais e subsequentes, significaria R$ 100 bilhões sendo absorvido apenas pelo investidor brasileiro.

“Os investidores estrangeiros também devem começar a voltar a fazer alocação em Brasil, mas o que eles querem ver é crescimento primeiro. A estimativa é que US$ 10 bilhões a US$ 20 bilhões entrem no país este ano em ofertas de ações, por parte desses investidores”, diz o gestor. “Mas a gente não precisa disso para a renda variável continuar indo bem no Brasil, porque tem essa mudança ‘tectônica’ na alocação nacional”.

Na carteira, o gestor voltou a olhar setores que, até o início do ano passado, não estavam no radar, como consumo e construção, e histórias relacionadas a processos de privatização. Nem a recente volatilidade e as possíveis mudanças de projeções no crescimento global devido ao coronavírus afetam o otimismo da casa, dado que o Brasil tende a estar no grupo seleto de países com crescimento.

“Odeio falar isso, porque são quatro palavras perigosas, mas parece que ‘desta vez é diferente’”, diz Souza. Sua ressalva antes da frase não é à toa: a expressão é extensamente tratada na literatura econômica como um dos maiores riscos para gestão de portfólio – nos Estados Unidos, foi batizada de “this-time-is-different syndrome”.

https://valor.globo.com/financas/noticia/2020/02/11/fluxo-de-investidor-local-deve-sustentar-bolsa-diz-one.ghtml

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