Valor Investe – Ciclo de lucros justifica dobrar aposta em ações nos fundos de previdência

Gestores apostam em ganhos maiores na bolsa como antídoto a juros baixos e descrevem estratégias para engajar cliente à tese da renda variável na aposentadoria

Por Rafael Gregorio, Valor Investe — São Paulo

Foto: GettyImages

Para salvaguardar a rentabilidade em meio aos juros baixos, os fundos de previdência ampliaram a fatia de ações nas carteiras, mas agora devem dobrar essa aposta, pois veremos um aumento dos lucros das empresas na bolsa.

E, ainda que esses produtos se destinem quase sempre à reserva de aposentadoria – e, por isso, tradicionalmente tenham tido gestões conservadoras –, há meios para fazer os clientes tolerarem os riscos da renda variável, como o uso de analistas de dados e inteligência artificial e a aproximação dos administradores das companhias listadas.

Com algumas variações, essa opinião foi a tônica de um evento promovido pela Icatu Seguros, reunindo gestores de fundos de previdência nesta quinta-feira, em São Paulo.

“Temos pela frente a terceira pernada do desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro, que é a do crescimento dos lucros das empresas listadas na bolsa”, afirmou Pedro Sales, gestor da Verde.

Para ele, o desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil nos últimos anos refletiu uma primeira etapa de ajuste fiscal e uma segunda de juros mais baixos.

Agora, ele diz, vem um terceiro momento: “o lucro de várias empresas na bolsa vai subir em velocidade forte nos próximos anos. Há espaço para crescimentos robustos de receita sem aumento de custos, uma expansão de escala e de margens.

Questionado se já não seria tarde para os gestores de fundos de previdência entrarem na onda, Sales, que tem apostado principalmente em papéis de empresas de saúde e de varejo, discordou.

“Na nossa visão, ainda é um ótimo momento, sim; afinal, os inícios de ciclos são sempre a etapa do processo com maior potencial de ganhos.”

Com base nessa crença, ele diz, a Verde ampliou de 50% para 90%, nos últimos quatro anos, a exposição à bolsa nas carteiras de seus fundos.

De perto

Mas, em paralelo, a gestora passou a acompanhar mais de perto as empresas em cujas ações seus fundos investem.

“Hoje, na equipe da Verde, o que se vê são profissionais que não olham mais para as ações, mas para as dinâmicas internas das empresas, e observo o mesmo entre meus colegas”, afirmou Sales.

Segundo ele, a Verde também passou a sugerir aos clientes uma dosagem da carteira com outro fundo, de estratégia long biased (carteiras que têm a tendência de ficarem compradas — mas que nem sempre fazem só isso), com apostas em sentidos diversos – altas de juros e de inflação, desvalorizações monetárias e recessões, por exemplo.

“A ideia é proteger o cliente menos otimista contemplando a possibilidade de um cenário ruim, e, ao mesmo tempo, facilitar a tomada de decisão do cliente de previdência que ainda tem exposição pequena a ações”, disse Sales.

Rodrigo Heilberg, fundador da HIX Capital, reforçou essa visão. Segundo ele, os fundos de previdência sob gestão da empresa “já estão investindo forte em ações, a despeito de limitações na legislação”.

Essa lógica, ele diz, se estende inclusive a um fundo de varejo recentemente lançado – o primeiro da casa sem exclusividade para investidores qualificados ou profissionais.

“A única diferença é uma limitação de 20% de exposição por emissor, que, por política nossa de investimento, supera até a barreira legal de 15%”, afirmou. “Tirando isso, em todo o resto o fundo de previdência é muito parecido com o de ações, inclusive na performance.”

Além de reforçar a necessidade de ampliar a exposição à bolsa para proteger a rentabilidade da previdência privada, Thomas de Mello, sócio da gestora One Partners, ressaltou a aposta em tecnologia da informação e o potencial que a baixa adesão às novas ferramentas representa.

Nos Estados Unidos, 90% dos gestores de fundos de previdência ainda não usam tecnologia para escolher investimentos em ações. Aposto que no Brasil isso é pior ainda, estamos engatinhando. Até por essa adesão ainda pequena, vemos enorme potencial.”

Ele ilustra esse movimento com um exemplo prático: “lá na One, a gente tinha 40 planilhas de Excel por analista. Hoje, são duas. Queremos gastar menos tempo compilando dado e informação e mais tempo gerando inteligência e buscando o alpha (retorno excedente ao risco) que o cliente quer”, afirmou.

https://valorinveste.globo.com/produtos/previdencia-privada/noticia/2019/11/28/ciclo-de-lucros-justifica-dobrar-aposta-em-acoes-nos-fundos-de-previdencia-dizem-gestores.ghtml

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